Se for verdadeiro o ditado Há males que vêm para bem, a recente interdição do Estádio de Atletismo Célio de Barros cuja pista vem sendo usada na reforma do Maracanã pode ter ocasionado a transferência da comunidade do atletismo para o melhor palco no Rio: a pista principal do Engenhão, onde atletas e alunos de escolinhas já treinam desde meados da semana.
Verdade que o Célio de Barros, inaugurado a 25 de outubro de 1974, faz parte da história, por ter recebido os campeões olímpicos Adhemar Ferreira da Silva, Joaquim Cruz e Maurren Maggi. Mas diante da interdição recente e da possível demolição, para que o local vire estacionamento do Maracanã, usar a pista do Engenhão sem choque com treinos de futebol do Botafogo pode ser a solução. Isso até ser erguido o novo estádio próximo à Quinta.
Um exemplo da convivência pacífica futebol/atletismo ocorreu quarta-feira. Às 9h, enquanto o futebol do Botafogo treinava no campo auxiliar do Engenhão, 50 atletas do Vasco, de outras equipes e alunos do Projeto Rio-2016 corriam na pista principal do estádio, à paisana, parte do acordo.
APREENSÃO NO JÚLIO DE LAMARE
Esta convivência terá de ser alinhavada entre o presidente da Federação de Atletismo do Rio, Carlos Alberto Lancetta, e o diretor executivo do Botafogo e do Engenhão, Sérgio Landau.
Atletas de arremessos irão para o Cefan. O gramado do Engenhão não pode ser atingido por dardos, discos, pesos.
O equipamento (barreiras, colchões) do Célio de Barros será transportado para o Engenhão diz Lancetta.
Não temos estádio para competições, nem transporte (para o Engenhão). Mas temos a promessa do governador quanto ao transporte.
Treinar pesa no bolso, como dizem atletas e pais de crianças do Rio-2016.
Para o Célio de Barros, pegava uma kombi. Agora, mais dois ônibus. Vai ter dia de não treinar, sem dinheiro diz Marcelle Souza, 16 anos, da escolinha.
Boa ideia talvez seja a de Laura Teixeira, mãe de Matheus e Ester:
Queria o Riocard para atletas.
Para quem convivia no Célio de Barros, a possível demolição apavora. Caso da técnica do Vasco, Solange Chagas:
O Engenhão não é nossa casa. É emprestado. Queremos o \"Célio\" de volta. Não vamos desistir! Eles têm a ideia de acabar com o Célio há tempos. A Copa e a Rio-2016 são desculpas!
Professora da escolinha Rio-2016, Edineida Freire antecipa que haverá ato contra a demolição no dia 31:
O Engenhão é muito bom, mas não é para o atletismo. É espaço do futebol. Já Vania Valentino, treinadora do velocista Aldemir Gomes, que foi a Londres-2012, diz que demolir o Célio é inadmissível para quem vai sediar as Olimpíadas. Para Aldemir, o Célio de Barros é sua segunda casa:
Foi como perder um parente. Está a caminho da destruição. Quem faz isso pouco está se lixando para o atletismo. Aqui não estaremos à vontade. Ele não é tão nosso quanto o Célio.
Para Nina Santoro, de 17 anos, líder do ranking de menores nos 100m com barreiras, a pista do Engenhão supera a outra, mas demolir o antigo estádio será um golpe fatal no atletismo. Já a barreirista Fernanda Tavares, 28 anos, acha que o Engenhão já deveria ter recebido o atletismo há mais tempo:
O atletismo é pai de todos os esportes, mas é visto como algo menor.
Velocista, Ivan Mello, de 19 anos, acha que atletismo e futebol não prejudicam um ao outro:
Este aqui será o espaço para 2016.
Atleta do Mackenzie, César Castro utiliza a piscina de saltos. Prata no Pan do Rio, bronze no Pan de Guadalajara-2011, quinto no Mundial de 2009 e finalista olímpico em Atenas-2004, ele lamenta a decisão de demolir o local: