Aos 36 anos, Fúlvio já viveu praticamente tudo em sua carreira no basquete. Passou por 15 clubes, jogou na Itália, Venezuela, Espanha. Pela seleção brasileira, foi campeão sul-americano em 2010 e viveu os mais diversos cenários da Confederação Brasileira de Basketball. No mês passado, o armador foi convocado mais uma vez, agora para liderar um grupo de jovens na primeira fase da Copa América, em Medellín, na Colômbia. Em quadra, o Brasil não se encontrou e teve o pior resultado possível. Além de não avançar ao Final Four, conseguiu ficar de fora dos classificados para o Pan-Americano de Lima, em 2019. Defendendo as cores do país desde 2004, o paulista não ficou em cima do muro após o vexame. Para ele, que isenta a atual gestão, faltou tempo e condições de treino, situações que o atualmente o esporte não perdoa.
- O resultado é reflexo de tudo que vem acontecendo no basquete do Brasil, falando de CBB. A Liga, ano após ano, só vem evoluindo. Isso é apenas um retrato do que é o basquete brasileiro. Faltou preparo e recursos com o momento em que a CBB se encontra. E ao mesmo tempo a nova diretoria tentando fazer de tudo para a gente. Foi um esforço muito grande. É difícil achar culpados, é o que o grupo mereceu. Não teve uma preparação adequada, uma logística boa, coisas naturais que o basquete não perdoa. Mas, frisando, os poucos dias que vivi lá, o que a diretoria fez para nós, para termos as melhores estrutura de viagem e preparação de quadra, fizeram o que deu. Na quadra, não correspondemos. Vendo de fora, será que o Brasil merecia estar lá mesmo? Pelas pessoas que assumiram, deram a cara a tapa, sim, mas infelizmente, estão sendo apedrejadas por uma má administração do passado, levando a culpa agora. Isso que ficamos chateados. A nova gestão, diretoria, estão fazendo de tudo - garante o jogador que agora defende o Vasco.
Para Fulvio, basicamente faltou tempo e treino. O Brasil estava suspenso pela Fiba até junho. A punição caiu e a CBB teve que correr contra o tempo para se organizar e viabilizar parcerias para a fase de preparação antes da AmeriCup. O técnico escolhido foi César Guidetti, do Pinheiros, que chegou como interino e em cima da hora praticamente.
- Tivemos dez dias se não me engano, da data da apresentação, no dia 7, às 15h. Viajamos no dia 18. Nesse meio tempo tivemos dois amistosos. Você teve praticamente uma semana de treino, 12 treinos. É muito pouco perto de jogadores jovens. O ideal é que todos tivessem um maior entrosamento. Pegar cinco de um time só. Mas não era o propósito da gestão, era dar bagagem para os meninos em um torneio importante. Para muitos, foi a primeira vez. É complicado. Não sabemos o que é a cabeça da meninada dessa geração. E infelizmente deixamos a desejar na quadra. Tivemos momentos bons, outros ruins, e os ruins não perdoaram. Era tiro curto, não poderíamos perder - conta o armador.
Fúlvio isenta Guidetti e entende Bruno Caboclo
O mais experiente do grupo em Medellín, Fúlvio ajudava o técnico César Guidetti nos pedidos de tempo. Chegava a pegar a prancheta para que os outros também entendessem os pedidos do técnico. Para ele, a opção da CBB pelo técnico do Pinheiros é entendível. Fúlvio explica que não é a sua função decidir se ele era o nome correto ou não, mas sobre Bruno Caboclo, cortado por se negar a entrar em quadra depois de ficar no banco, ele tem uma opinião. Para o armador, o garoto tem coração bom e vai evoluir muito sua mentalidade.
- O César fez um excelente NBB, é o segundo NBB que ele faz uma excelente temporada, mostrou qualidade, tem anos de experiência como assistente técnico. Dos nomes possíveis, a diretoria achou o melhor. E gosto dele. Se é o nome certo, não cabe a mim, e sim a diretoria da CBB. Com relação ao Caboclo, sendo sincero, eu não vi o momento em que ele fala que não vai jogar. Eu estava em quadra. Não vi ele depois de um tempo, perguntei e não vi o que aconteceu. Mas é um menino bom, dez, se tomou essa postura, foi involuntariamente, com certeza se arrependeu depois. Espero que seja apenas uma atitude impensada dele e que possa voltar. É um grande futuro do nosso basquete. As atitudes têm sérias consequências. E aí infelizmente ocasionou no desligamento dele temporário.
Ânimo novo no Vasco: "Olhos brilharam"
Antes mesmo do desmanche do Brasília, que não irá disputar o Novo Basquete Brasil, Fúlvio aceitou uma proposta do Vasco e veio morar pela primeira vez no Rio de Janeiro. Adaptado, o armador garante que um objetivo de carreira o moveu do Centro-Oeste para o Sudeste. O sonho de ser campeão brasileiro, o título que falta em sua trajetória. O paulista diz que assim que recebeu o convite do Vasco, seus olhos brilharam e a chama acendeu.
- Eu venho a muitos anos vislumbrando um título nacional que não conquistei ainda na minha carreira. O Vasco está me proporcionando essa oportunidade. Um grupo competitivo internamente, o que eleva a qualidade da equipe. O propósito de estar brigando por títulos é algo que me motivou bastante. Saí do Brasília numa época de turbulência, sem saber se o time ia continuar o não. O Vasco, um time de camisa, de história, de conquistas, e pela proposta que o treinador me fez, para os objetivos pessoais, que é a conquista do título, me fez brilhar o olho de novo.
Acostumado a enfrentar o Flamengo, ele não faz ideia de como será o encontro com o Rubro-Negro, agora vestindo Cruz-Maltino. Mas espera que o elenco do Vasco, recheado de estrelas, faça jus ao investimento e ao favoritismo para o NBB já alcançado.
- Todo jogador que quer jogar em alto nível tem que gostar de pressão, desses momento. Nesse grupo, todos estão acostumados. Eu, Nezinho, David, Giovannoni, meninos que já são gabaritados de seleção brasileira, o Lucas, o Gui, o Dedé. É um grupo muito grande, são dez jogadores e é um time que foi formado para chegar nas cabeças, ganhar uma final, no mínimo uma semifinal e temos que vender isso. O investimento foi feito para isso. Os atletas estão cientes disso. Em nenhuma entrevista minha você vai me ver falando diferente disso.