"Sinto no bater do coração, o verde da vitória é pura emoção, o Juventude é um time feito para amar". O trecho do hino da papada, torcida do clube gaúcho, serve para lembrar: por vezes as grandes conquistas dos clubes no futebol nem sempre são as desbravadas em campo. Por vezes as grandes histórias transcendem o limite das quatro linhas e chegam ao maior patrimônio de qualquer clube: a torcida. Talvez, nesse caso, uma das maiores conquistas recentes do Juventude seja o pequeno Arthur.
O final feliz de um capítulo dolorido na história do pequenino torcedor, que tem seis meses, mas já viveu uma luta gigantesca, rendeu homenagens do clube nas redes sociais. Nenê, o elenco e a torcida do Juventude como um todo se mobilizou para ajudar no tratamento do bebê, que precisou fazer cirurgia no coração e ficar por 48h na UTI com peito aberto.
Ainda na barriga da mãe, Camila de Campos de Lima, de 27 anos, Arthur Davi de Lima Fraga foi diagnosticado com Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo, uma cardiopatia extremamente rara e grave em que o lado esquerdo do coração e a aorta não se desenvolvem corretamente antes do nascimento. Isso impede que o coração bombeie sangue oxigenado para o corpo..
Junto do pai, Mauricio de Souza Fraga, 32 anos, encontraram no Juventude um pedacinho de luz em um momento de desesperança.
Depois disso que o Juventude fez, toda a nossa família é juventudista. Tinham uns meio indecisos, agora viraram tudo torcedores.
— Maurício, pai do Arthur
A síndrome foi descoberta por Camila quando estava na 27ª semana de gestação, algo em torno dos sete meses. Dos médicos, tanto em Caxias do Sul quanto em Porto Alegre, ouviu que as chances de sobrevivência eram quase nulas, cerca de 1%.
No dia que eu descobri o médico apavorou a gente, porque aqui na nossa cidade não tem tratamento. E ele me falou que era grave.
— Camila, mãe do Arthur
Desistir, porém, não era uma opção para a família, que encontrou um casal de outro município gaúcho, que havia passado pela mesma situação. A indicação foi procurar um hospital em São Paulo, que possui uma das melhores equipes do país para tratar a condição.
Lá, os médicos deram 92% de chance de vida ao bebê e Camila, que é dentista e autônoma, largou o trabalho e deixou a serra gaúcha rumo à capital paulista, ainda grávida. O pai, Maurício, precisou seguir trabalhando para garantir apoio financeiro à família.
— A gente não sabia como a gente ia pagar, mas a gente tinha que estar lá. A gente ia ter que dar um jeito. E a gente foi.
Arthur passou por duas cirurgias complexas, a primeira com 12 horas de duração e 48 horas de UTI com o peito aberto. A segunda, para reconstrução de veias e redirecionamento da circulação, exigiu que ele ganhasse peso e enfrentasse mais semanas de internação.
— A gente conseguiu uma cirurgia paga (pelo plano). O resto a gente ainda deve para o hospital. E o tratamento em si é mais de R$ 3 milhões — conta Camila.
A família ainda enfrenta uma batalha judicial para cobrir parte das despesas. A dívida atual está na casa dos R$ 600 mil.
Foi nesse momento que o Juventude entrou em campo. Maurício, torcedor fanático e sócio do clube desde pequeno, procurou ajuda.
O fotógrafo Fernando Alves foi o primeiro a responder, e logo o departamento de marketing abraçou a causa. A divulgação da rifa com prêmios, incluindo uma camisa autografada do Juventude, mobilizou a torcida.
— Nos ajudou muito. Assim que eles divulgaram, nas redes sociais, muita gente comprou a rifa, começou a seguir o perfil dele nas redes sociais — conta Camila.
A história ganhou ainda mais força com a participação de Nenê, que comprou um número expressivo de rifas e, por coincidência, foi sorteado.
— Fiquei até com vergonha de chamar ele, mas ele respondeu, foi super atencioso — contou Maurício, que lembra que, até hoje, o jogador mantém contato com a família e acompanha o progresso do pequeno torcedor.
Depois de quatro meses, o pequeno Arthur foi liberado para retornar para casa. O Juventude preparou uma recepção especial no aeroporto de Caxias do Sul, registrada em vídeo.
A maior emoção foi voltar para casa, porque parecia uma coisa que era impossível. Foi, para mim, o momento mais feliz da minha vida
— Camila, mãe do Arthur
Ainda assim, os pais ainda contam que a luta está longe de acabar. Arthur vai precisar de acompanhamento médico para o resto da vida, além de precisar passar por mais uma cirurgia, prevista para acontecer quando o pequeno atingir os quatro anos.
Por enquanto, Camila e Maurício aproveitam o pequeno em casa e garantem que um dos objetivos agora, é conscientizar sobre o doença e ajudar famílias que passem por situações semelhantes. Além de, claro, apresentar o Juventude oficialmente para o pequeno.
— Um dos sonhos é levar ele no Jaconi. Aí, a gente vai ver mesmo, vamos fazer o teste mesmo do coraçãozinho dele — brinca Maurício.
Mais lidas