Futebol

Criadora do Vasmengo pede paz entre as torcidas

Agua e óleo não se misturam. Até quem não entende de química sabe disso. E nos campos da vida, qualquer torcedor sabe que vascaínos não simpatizam com o Flamengo, e que rubro-negros não gostam do Vasco.

Mas e numa situação inesperada como a das finais da Copa Sul-Americana, na qual se o time de Diego & cia for campeão vai acabar ajudando o elenco liderado por Nenê a entrar direto na fase de grupos da Libertadores da América de 2018? Vale torcer pelo Flamengo sendo Vasco?

Ou é melhor torcer para o Flamengo perder, mesmo sendo rubro-negro, só para o time de São Januário não ter seu caminho facilitado? Quem parece ter a resposta para isso mora a 3,5 mil km do Rio: Dulcineia Félix Souza Lopes, dona Dulce, fundadora e presidente há 20 anos do Vasmengo, de Rondônia.

- Acabei com todas essas dúvidas - afirma ela, por telefone, de Porto Velho, onde mora. - No meu grupo de whattsup, tem vascaínos dizendo que não vão torcer para o Flamengo de jeito algum. Mas escrevi que não so nem Vasco, nem Flamengo. Sou Vasmengo. Tenho o palpite de que o Flamengo vai ganhar de 2 a 1 na Argentina e empatar no Naracanã. Aí, o Vascão estará na Libertadores (na fase de grupos).

Aos 55 anos, a presidente do Vasmengo, dona Dulce, como é conhecida em Porto Velho, é uma apaixonada vascaína. Mas pela distância, jamais pôde vir ao Rio.

-Meu sonho é ir ao Maracanã, usando a minha camisa do Vasmengo, para torcer pelo meu Vasco - conta. - Se pudesse falar algo para esses torcedores que brigam, diria que essa violência é muito triste. Futebol é vida, é arte, é diversão. Ninguém tem de ir a um estádio para brigar. Violência não combina com futebol. Sempre converso com meu time, antes de cada jogo, pedindo que ninguém brigue nem faça gestos obscenos.

Antes que alguém imagine que dona Dulce, como é conhecida, está contando alguma piada, basta que ela conseguiu o impossível, algo mais improvável que misturar óleo com água. Teve a coragem de fundar, em 1997, um time amador que reúne as paixões de sua família: o Flamengo e o Vasco.

- Há um campo de peladas no bairro Mariana, aqui em Porto Velho, onde o pessoal da minha família sempre costumava jogar, até que em 1997, resolveram organizar um campeonato, e cada time teria de ter um nome. Foi quando nos reunimos aqui em casa, umas 30 pessoas. Havia vascaínos, rubro-negros e também corintianos e sãopaulinos. Aí, surgiu a ideia do Vasmengo - relembra a dublê de presidente e treinadora.

- Levamos uns três dias até escolher o nome. Os rubro-negros não aceitavam que o nome do Vasco viesse na frente. Eles queriam Flavasco, mas ficaria feio. Até que acabamos escolhendo Vasmengo. Mari, minha nora, mulher do Alexandre, desenhou a primeira camisa.

Escudos, bandeiras e uniformes são divididos entre os dois clubes, meio a meio. A maior conquista da equipe foi a Recopa Genus, há dois anos. Atualmente, o time lidera seu grupo na Copa Genus deste ano, com uma vitória e um empate; e já se classificou em primeiro na chave para a próxima fase do Amadorzão de Rondônia, com duas vitorias e dois empates.

- Os nossos uniformes são uma sensação em Porto Velho. Todo mundo quer - afirma ela.

O clube de dona Dulce é amador e disputa campeonatos e torneios em pisos de barro, sem gramado nem arquibancada, nos quais a torcida fica bem ao lado do campo. Algo capaz de fazer lembrar os hoje raros campos de pelada e de várzea existentes nas cidades grandes. Nelas quase não há mais espaço para isso, por causa da especulação imobiliária.

Sem patrocinador, um time como o Vasmengo depende realmente da ajuda financeira de seus atletas, que exercem outras profissões para se manter, e de doações de peças dos uniformes.

Veterano da equipe, Duosenilson Diogo Barbosa, o Noquinha, de 45 anos, é o camisa 5 e atua com volante. Torcedor do Flamengo, reconhece ser pouco provável vascaínos torcerem por um título do rival na competição sul-americana.

- É uma situação complicada, e fosse o inverso, o Flamengo também não iria torcer pelo Vasco. A rivalidade é muito grande. Quando os dois se enfrentam só faltam se matar. Para mim, é a maior rivalidade do país - comenta ele, que também sonha em conhecer o Rio. - Acredito que o Flamengo vença por 2 a 1 besta quarta-feira.

Mesmo sendo rubro-negro, Noquinha não estranha quando veste uma camisa que homenageia também o clube de São Januário.

- Represento o Vasmengo. Para mim, é mais que um clube. É uma família que formamos há 20 anos. Há muitos garotos novos no time, e sou o mais veterano do grupo. Outro dia brincaram comigo que assim como o Zé Roberto se aposentou, eu tenho de parar também. Mas não vou não - enfatizou. - É triste essa violência entre as torcidas, e acho que uma ideia como a do nosso time ajudaria a reduzir isso.

Pelo menos essa é a lição que há 20 anos dona Dulce e um time de Porto Velho, longe das maiores capitais do país, vêm ensinando a quem gosta de esporte: a de que a rivalidade faz parte, mas sem dar espaço à violência. Se os químicos até hoje não conseguiram, nem deverão conseguir, misturar óleo e água, uma dona de casa do Norte do país usou seu amor pelo esporte e por sua família para unir, de alguma forma, os gigantes Vasco e Flamengo.

Fonte: ge
  • Domingo, 17/03/2024 às 16h00
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