Demitido de Flamengo e Vasco, e com uma passagem relâmpago pelo Fluminense nas últimas cinco rodadas do Brasileiro do ano passado, Dorival Júnior pode ter vivido o que se considera um ano negro em 2013. Porém, mesmo acostumado a ganhar títulos, ele pensa diferente. Sem clube desde janeiro, o treinador analisa seus trabalhos, diz que precisava dar um tempo, assegura que aprendeu com os tropeços e projeta um futuro melhor, para ele e os demais técnicos do Brasil.
É difícil para um técnico de ponta estar fora do Brasileiro?
O mercado se alterou pouco, e isso é bom para os técnicos. Mas também foi uma opção minha. Eu precisava parar, porque vinha de dez anos intensos, sem respirar. Tem sido bom para me preparar e voltar melhor.
Você já digeriu a saída do Flamengo, em março de 2013, por contenção de despesas?
Não tenho mágoa do Flamengo. Em dezembro de 2012, quis colocar meu cargo à disposição, e o Zinho (então diretor) pediu para que não o fizesse porque os dirigentes que estavam assumindo gostavam do meu trabalho. A saída não foi uma opção minha. Ajudei na formação de um novo grupo e fico feliz porque acho que contribuí de alguma forma para o que aconteceu no fim do ano (o título da Copa do Brasil).
Você assumiu o Vasco pouco depois, em meio a uma grave crise. Arrepende-se?
Não me arrependo e não fujo da minha responsabilidade, mas fui contratado para um projeto que não aconteceu. Na primeira reunião com os dirigentes, alertei que precisávamos mudar a cara do elenco. Algumas promessas não foram cumpridas, o que faz parte. Depois, perdemos o Guiñazu por lesão, e o Vasco teve uma série de problemas ao longo do ano. Quando acontecia algo de bom, logo vinha um problema.
O que te levou a assumir o Fluminense na luta contra o rebaixamento, com só cinco jogos pela frente?
Eu me sentia equilibrado e pronto quando assumi o Fluminense. Acho que ajudei, e foi uma pena não ter continuado. Faria de novo.
A briga entre diretoria e patrocinador prejudicou o time?
Fiquei pouco tempo, não fui atingido por isso. Naquele momento, havia uma união de todos contra o rebaixamento.
Os clubes já te pagaram?
O Fluminense já. O acordo com o Flamengo está perto, há a vontade de acertar. No Vasco, estou vendo o que fazer.
O Fluminense prometeu um prêmio caso não caísse para a Série B. E acabou não caindo...
Não posso cobrar esse prêmio. Isso, se fosse o caso, caberia a eles (dirigentes).
O ano passado foi o pior da sua carreira?
Não vejo assim. A minha valorização vem de um trabalho de muitos anos. Nunca considerei as conquistas só mérito meu. O ser humano tem que aprender em momentos ruins também, analisar os erros, buscar melhorar e aprender. A minha carreira sempre foi vitoriosa, esse foi o primeiro momento com mais dificuldade. Preciso ter essa consciência e me preparar mais para chegar em uma condição melhor quando voltar a trabalhar.
Não é estranho um técnico passar por muitos clubes em um ano e ainda sair sem receber?
Estou em uma comissão do Poder Legislativo com técnicos, senadores e deputados para debater a situação dos treinadores. É preciso regulamentar a profissão. Os clubes não podem mais ficar em cima só da passionalidade e demitir quando se sentem ameaçados. Hoje há clubes que pagam a vários treinadores, e técnicos que recebem de dois ou três clubes. E isso com técnicos de prestígio, mandados embora a qualquer momento, mas que têm mercado. Mas há muitos, a maioria, que sequer têm contrato com clubes. São demitidos e nada recebem.