Futebol

Opinião: Jorginho no Vasco não foi nem bom, nem ruim

A demissão de Jorginho no Vasco não fugiria à regra das demais quedas de treinadores no Brasil. De imediato, instalou-se o debate: sua passagem pelo cargo foi boa ou ruim? No caso do vascaíno, não foi boa, tampouco foi ruim. Foi interrompida. No fim, quando nos pegamos analisando o desempenho de um treinador que ficou só dez jogos empregado, estamos nos rendendo ao viciado modus operandi do futebol brasileiro: tentamos avaliar um trabalho que era apenas embrionário. Ou seja, um trabalho que nem chegou a existir.

A nova diretoria do Vasco repete um velho equívoco: a incapacidade de gerir expectativas. O Vasco é um gigante, mas não está gigante. Recuemos no tempo e lembremos do início da temporada do clube, marcada por uma transição política traumática, perdas de jogadores, dificuldade de fazer reposições no elenco e até o inusitado risco da falta de dinheiro para pagar as passagens dos atletas para a estreia na Libertadores. As 38 rodadas de um Campeonato Brasileiro de Série A em pontos corridos são uma corrida exaustiva, de nível técnico nem sempre alto, mas de competitividade elevada. Cada vez mais a capacidade financeira está ligada ao desempenho esportivo. Para um clube como o Vasco, ao menos para o Vasco de hoje, fazer esta travessia a uma distância segura das últimas posições, ter um voo de cruzeiro, já seria algo a comemorar neste 2018. Mas os clubes grandes do Brasil avaliam o trabalho de seus treinadores como se todos eles fossem, de fato, candidatos ao título.

O Vasco de Jorginho apontava para uma revolução? De forma alguma. O desmpenho defensivo continuava muito ruim e a média de gols sofridos por partida chegou a 1,6, levemente superior à do antecessor Zé Ricardo. Mas há ponderações a fazer. É justo dividir a passagem de Jorginho em duas etapas. Os dois jogos antes da parada para a Copa do Mundo foram quase uma operação de emergência, em que o treinador assumiu apenas para colocar o time em campo, praticamente sem treinar. E a parada para o Mundial, que ofereceu um tempo de preparação que virou argumento para muitas condenações ao trabalho de diversos técnicos do país, não sustenta um veredicto sobre o treinador. Afinal, foram só oito jogos após a retomada da temporada. No pós-Copa, o time sofreu 1,3 gol por partida. Menos do que antes, embora não seja algo a celebrar.

Pode-se falar de duas eliminações. Uma delas, no entanto, não foi obra de Jorginho. Ele dirigiu apenas o jogo de volta da Copa do Brasil, contra o Bahia, e o estrago fora feito em Salvador, na derrota por 3 a 0. Em São Januário, faltou um gol para dar a volta na eliminatória.

E sim, o Vasco pós-Mundial teve momentos de bom futebol. Contra o Bahia, pela Copa do Brasil; no segundo tempo contra o São Paulo; no primeiro tempo contra o Corinthians; em boa parte do jogo de volta diante da LDU. Foram momentos em que conseguiu controlar a bola e construir, apesar da dependência de Yago Pikachu para ter lances de profundidade, de infiltração em defesas rivais.

É possível argumentar que nunca houve um jogo inteiro bem disputado, que o time oscilou. Mas estranho mesmo seria ver consistência num "trabalho" de dez partidas. E era notório como o time de descompunha após sofrer um revés no decorrer das partidas. Ocorre que, no Brasil, treinadores são tão descartáveis e o calendário permite tão pouco tempo para treinar que passamos a enxergar na parada de um mês para a Copa uma fartura de preparação, como se tal período obrigasse todos os técnicos brasileiros a apresentarem times prontos e acabados num padrão de primeira linha. Não é razoável. Outra vez, esbarramos na dificuldade de gerir expectativas.

Não se trata de vender a certeza de que a permanência de Jorginho levaria o Vasco a voos altos. Pouca coisa indicava isso, a começar pelo padrão do elenco. Tampouco é justo dizer que seu começo de trabalho apontava para desempenhos espetaculares. Neste pouco tempo, houve erros, opções equivocadas e atuações ruins, entre elas o paupérrimo desempenho contra o Palmeiras, no jogo que sacramentou a demissão. Nele, a tentativa de colocar o volante Andrey na lateral não funcionou. E ocorreu justamente no momento em que o time sofreu o gol. 

O grande problema é que, no fundo, Jorginho caiu tão rapidamente porque quem o contratou não sabia ao certo o motivo de tê-lo escolhido. O clube trouxe o ex-jogador campeão pelo clube, o profissional de futebol experiente. E torceu para funcionar. Na verdade, se suas visões de futebol casavam com as necessidades de um elenco carente, com poucas opções de profundidade no ataque e com uma defesa que jogou sempre exposta, sequer se discutiu. Outro ponto que certamente não se discutiu, foi a bizarrice de dispensar um treinador após um jogo em que nada menos do que três reforços estreavam. Um deles, o zagueiro Leandro Castan, reforçando o setor mais crítico do time.

Possivelmente, o mesmo processo vai anteceder a contratação do substituto, que sobreviverá caso fabrique resultados imediatamente. E a roda do futebol brasileiro continuará a girar. O tempo não garante bons trabalhos. Garante, apenas, que possamos separar bons e maus trabalhos. O resto, é quase uma aleatoriedade.

Fonte: Blog do Mansur – O Globo
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