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Opinião: Vasco, um time que se recusa a desistir

São tantos os momentos em que esta Libertadores parece um desafio grande demais para o momento de fragilidade que o Vasco atravessa: a crise política, a perda de jogadores desde o fim de 2017, o sorteio que o conduziu a um grupo cruel, a lesão e depois a venda de Paulinho, a crise financeira... Houve passagens do empate com o Racing em 1 a 1, nesta quinta-feira, em São Januário, em que o Vasco pareceu um paciente terminal. Mas o time que vai a campo se recusa a morrer na competição. Numa demonstração de dedicação, reorganizado dentro do possível no segundo tempo por Zé Ricardo após a expulsão de Desábato, o time arrancou um improvável empate contra um rival que parecia tecnicamente melhor.

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Até mesmo o estádio com metade de sua capacidade apontava para a sensação de que os problemas técnicos do Vasco faziam da competição sul-americana um objetivo distante. E a situação ainda é muito difícil. Em último lugar no grupo, o Vasco precisa vencer seus dois jogos, contra Cruzeiro e Universidad de Chile, e torcer para que os dois não ganhem do Racing. Quem foi ao estádio pode se orgulhar da luta do time, capaz de renovar esperanças, apesar das carências. No segundo tempo, embora a lógica apontasse para a derrota, não é possível dizer que o Vasco tenha empatado por acaso. É verdade que o Racing pareceu pouco decidido a definir o jogo. Mas o Vasco teve momentos de imposição, mesmo com um a menos.

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Por vezes, a sensação era de que a goleada sofrida na Argentina deixara marcas. O que até é natural. Tão preocupado em evitar perdas de bola que expusessem a defesa, o Vasco elaborava pouco, preferia ligações diretas e passes longos. Raramente incomodava o Racing. Por outro lado, não sofria tanto. Apesar da clara predominância dos argentinos na posse de bola, que chegou a 65% na primeira etapa, as chances de gol não apareciam. A dificuldade do Vasco era, também, combater a saída de bola do Racing, que usava ativamente os zagueiros ao iniciar a construção ofensiva.

Tudo o que o Vasco tentou evitar se materializou aos 31 minutos, quando uma bola perdida após um escanteio ofensivo gerou o contragolpe e o gol de Lautaro Martínez. Em seguida, Lisandro López chutou rente à trave de Martín Silva. Novamente, o lado esquerdo da defesa tinha problemas, desta vez com as diagonais de Centurión buscando a entrada da área. O Vasco precisava reverter o quadro, mas São Januário, um tanto resignado, por vezes parecia se convencer de que o Racing era melhor.

Um cenário particularmente desalentador se desenhou quando Desábato, que já fizera falta dura no primeiro tempo, repetiu a dose e foi expulso aos 12 minutos do segundo. Seria normal que o Racing matasse o jogo. De fato, teve boas chances, com Donatti e, a melhor delas, com Martínez.

Mas o Vasco se multiplicou. Se faltava qualidade técnica, sobrava dedicação. Zé Ricardo trocou Wellington por Riascos, passou a jogar sem um volante de origem e, mesmo assim, seu time prevaleceu no campo em parte do segundo tempo. Riascos perdeu uma chance aos 30 e, cinco minutos depois, Thiago Galhardo, que apesar de algumas decisões erradas cobria uma porção imensa de campo, conduzindo o time à frente com muita força, criou o lance do empate: Ríos chutou, e Wagner marcou no rebote. Foi como se brotasse em São Januário a esperança de reiniciar a Libertadores, ver um time que parecia virtualmente eliminado renascer. E quase aconteceu a virada, no chute de Yago Pikachu. Resta um fio de esperança.

Fonte: Agência O Globo