Embora seja pago para cuidar de camisas, bolas e chuteiras, Severino já transcendeu o plano material em São Januário.
Além da bolsa atravessada nas costas, o roupeiro carrega uma instituição nas costas. Há 54 anos no Vasco, viu Ademir Menezes, Vavá, Roberto Dinamite, Romário, Bebeto e Edmundo ocuparem o lugar de ídolo que agora se oferece a Carlos Alberto. De volta ao time, hoje, às 21h contra o São Caetano, no Anacleto Campanella, o apoiador recebe a camisa dezenove e afagos em forma de provocação do velho guardião do vestiário vascaíno.
Enquanto astros cumpriram trajetória, do nascimento ao ocaso, Severino ficou no mesmo lugar. À sombra dos ídolos, se mantém jovem como o vocabulário que compartilha com os jogadores.
Ao ver Carlos Alberto deixar o vestiário ontem, o roupeiro citou craques de outrora antes de dizer num termo impublicável que o apoiador não era um deles. Ao retribuir a gentileza, Carlos Alberto o segurou e abriu sua braguilha. À essa altura do campeonato, Severino não precisa mais exibir documentos.
A identidade é o Vasco.
Com o ambiente que temos aqui é muito difícil não se dar bem.
Temos uma relação pura, de amizade e carinho disse o apoiador, atribuindo aos fluídos de São Januário e à paternidade a melhor fase de sua carreira. É nessa hora que precisamos estar preparados para as dificuldades. Não podemos gastar toda a energia na fase boa.
Embora a volta do Vasco à Série A esteja próxima, o treinador Dorival Júnior procura criar desafios a cada jogo. Hoje, a ameaça vem de o São Caetano ter poupado titulares na última rodada e da instabilidade da defesa vascaína nos últimos jogos: Está na hora de a equipe passar credibilidade para que a gente não pense mais em alterações.
Uma mudança, no entanto, é desejada.
Fumagalli: 14 jogos para emplacar 2010
Com a chegada do apoiador Fumagalli, de 31 anos, emprestado pelo Sport até o fim do ano, Dorival espera ter um apoiador tão qualificado quanto experiente para dividir a responsabilidade que hoje pesa sobre Carlos Alberto.
Tenho três meses e 14 jogos para buscar meu espaço disse o jogador, que era reserva em Recife.
Em vez de sentir-se ameaçado, Carlos Alberto torce. Na noite de sexta-feira, trocou a folga ao lado do filho para ver a vitória sobre o Paraná em São Januário. Nas tardes de domingo, jogos e holofotes da Série A, por ora, não lhe atraem. Prefere ver os adversários e estudar a tabela.
O pragmatismo não lhe tirou a ambição de voltar à seleção. Embora lembre que ainda é um jovem de 24 anos, tem personalidade para se diferenciar dos demais De uns tempos para cá, o brasileiro passou a ter menos coragem de arriscar disse, antes de orientar os mais jovens. Podem fazer o que quiser, mas não deixem de tentar.
No campo, sempre penso que tenho que fazer a diferença.
Fora dele, também tem sido um elo importante entre o novo Vasco e suas tradições. Entre as trancinhas de Carlos Alberto e os cabelos brancos de Severino, o passado serve de estímulo para o clube se manter jovem. Saboreando o doce da inocência e a frieza da responsabilidade, o apoiador deixou o clube chupando um sacolé enquanto o roupeiro fechava as calças, mas não o rosto diante da gozação.
A gente tem que ser menino para o resto da vida disse o jogador, sem saber que repetia um mandamento vascaíno.
Nas palavras do ex-presidente Cyro Aranha, enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal.
Na amizade entre o roupeiro e o ídolo, as velhas brincadeiras trazem vida nova a São Januário.
São Caetano: Luiz; Artur, Marcelo Batatais, Anderson Marques e Bruno Recife; Adriano, Xuxa, Eduardo Ramos e Éverton Ribeiro; Vandinho e Careca.
Vasco: Fernando Prass, Paulo Sérgio, Vílson, Gian e Ramon; Amaral, Nílton, Allan e Carlos Alberto; Elton e Robinho.
Juiz: Márcio Chagas (RS)