Na noite desta segunda-feira, último dia do mês de junho, o Vasco cumpriu o que havia sido prometido dois meses atrás e deu mais detalhes sobre as finanças do clube em 2024. O relatório destaca a dívida bilionária da SAF (R$ 1,2 bilhão) e o aumento de algumas receitas, como premiações e valores provenientes da transferências de atletas.
Por determinação da Lei Geral do Esporte, os clubes tem até o fim de abril do ano subsequente para divulgar seus balanços financeiros. O Vasco divulgou seu relatório no dia 30 de abril, mas de maneira curta muito resumida: num documento de apenas quatro páginas e não auditado. O clube prometeu que daria mais detalhes até o fim de junho.
2024 foi o ano em que Pedrinho tomou o controle do futebol do Vasco das mãos da 777 Partners, por meio de uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro em maio.
- Diante de todas as circunstâncias excepcionais vivenciadas ao longo de 2024, entendemos que os resultados percebidos indicam uma evolução conjuntural e de gestão, que nos permitem acreditar que o projeto de transformação a longo prazo está no rumo certo em busca do fortalecimento sustentável e definitivo do Vasco - destaca a carta da diretoria administrativa que abre o balanço.
O valor total da dívida histórica do Vasco já havia sido destacada no balanço de dois meses atrás. Mas, dessa vez, o clube deu mais detalhes. De acordo com o relatório, de 2022 (ano da instituição da SAF) até o fim de 2024, a dívida aumentou em R$ 400 milhões.
O balanço destaca o trabalho feito pela atual gestão no que diz respeito à renegociação desses valores com os credores:
"Em resposta, a atual gestão adotou uma abordagem responsável e técnica, combinando negociação direta, legalidade e compromisso com os credores. O objetivo foi aliviar a pressão sobre o fluxo de caixa, restaurar a confiança do mercado e, acima de tudo, construir uma base sólida para que o clube possa crescer de forma consistente.
Antes mesmo de formalizar o pedido de recuperação judicial, no ambiente profissional e imparcial da Fundação Getúlio Vargas – FGV, a gestão, devidamente assessorada por especialistas renomados no mercado, conduziu rodadas estruturadas de mediação com credores das principais classes do passivo.
Essa abordagem prévia, que privilegia o diálogo e a busca de soluções consensuais, teve como finalidade antecipar acordos, reduzir litígios e sinalizar ao mercado a disposição do clube em tratar seus compromissos com seriedade. Destaques do processo de mediação:
O ano de 2024 foi marcado por um aumento significativo nos custos operacionais do clube: de R$ 370 no ano anterior para R$ 435 milhões. O salto "está diretamente relacionado às contratações realizadas no período", conforme aponta o relatório:
Como o Vasco já havia divulgado preliminarmente no relatório de dois meses atrás, o clube conseguiu aumentar as receitas em 2024. Houve, por exemplo, registro de faturamento total de R$ 474 milhões (R$ 299 milhões de receita operacional bruta + R$ 174 milhões em transferências de atletas), o maior número registrado na história do clube.
Um dos motivos para isso foi o desempenho esportivo do Vasco, que terminou o Brasileirão em décimo lugar e chegou até a semifinal na Copa do Brasil. Os ganhos em premiações saíram de R$ 19,8 milhões em 2023 para R$ 52 milhões.
O balanço também destaca o faturamento em venda de atletas, em especial as de Gabriel Pec para o LA Galaxy por 10 milhões de dólares e a de Marlon Gomes para o Shakhtar Donetsk por 12 milhões de euros.
O auditor independente que analisou as finanças do Vasco se absteve de emitir opinião. Confira o trecho do relatório da empresa BDO:
"Fomos contratados para examinar as demonstrações contábeis do Vasco da Gama Sociedade Anônima do Futebol- em Recuperação Judicial (“Companhia”), que compreendem o balanço patrimonial em31 de dezembro de 2024 e as respectivas demonstrações do resultado, do resultado abrangente, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, bem como as correspondentes notas explicativas, compreendendo as políticas contábeis significativas e outras informações elucidativas.
Não expressamos opinião sobre essas demonstrações contábeis acima referidas, pois devido à relevância dos assuntos descritos na seção intitulada “Base de Opinião para abstenção de opinião sobre as demonstrações contábeis” não nos foi possível obter evidência de auditoria apropria".
Sobre o tema, o Vasco informou o seguinte à imprensa:
"A BDO concluiu pela abstenção de opinião, conforme as normas contábeis NBC TA 705 e NBC TA 570, prática aplicável em empresas que estão em processo de recuperação judicial que ainda não tiveram seu plano aprovado. Por consequência, o Conselho Fiscal emitiu relatório no mesmo sentido.
Além disso, em decorrência das limitações relacionadas ao processo de recuperação judicial, a BDO não teve prazo hábil para concluir a análise de toda a documentação enviada, o que não altera a conclusão do relatório".
O Conselho Fiscal da SAF do Vasco alertou para a "incerteza sobre a continuidade operacional" da empresa. Confira um trecho do parecer:
"Este Conselho Fiscal encaminha as demonstrações financeiras de 2024 para deliberação do Conselho de Administração do Vasco SAF, na forma do seu estatuto social, não se opondo à sua divulgação, destacando, contudo, as limitações constantes no Relatório do Auditor Independente (BDO) reportado nesta data. Destacamos, em especial, os pontos de “Documentações Suporte”, cuja análise não foi concluída pelo Auditor, o que certamente impacta esse parecer. Além disso, ressaltamos os pontos de atenção abaixo:
A incerteza sobre a continuidade operacional do Vasco SAF persiste desde o primeiro parecer desse Conselho, em abril de 2023. Os números mostram uma piora significativa em comparação a 2023, quando já apontávamos um patrimônio líquido negativo em R$ 612 milhões. O PL permaneceria negativo mesmo com os aportes previstos de R$ 270 milhões e R$ 120 milhões, que seriam integralizados em 2024 e 2025, respectivamente (valores sem contar a atualização pela variação do IPCA desde a assinatura do boletim de subscrição no. 03/2022, em 02 de setembro de 2022). Com a inadimplência do acionista majoritário anterior não houve os aportes previstos, levando CRVG e Vasco SAF à recuperação judicial, resultando em um PL negativo de R$ 734 milhões. Mesmo com uma gestão excelente do plano de recuperação judicial (PRJ), que traz embutido um desafio operacional bastante relevante, as premissas do PRJ não são suficientes para viabilizar o fluxo de longo prazo, sendo essencial um evento de liquidez externa.
Mesmo com o aumento da receita total (receita operacional líquida + receita com transação de atletas) de R$ 349 milhões em 2023 para R$ 452 milhões em 2024 - novo recorde histórico da SAF e do CRVG -, a necessidade de reduzir o endividamento via RJ e equilibrar receitas, despesas e investimentos permanece crítica para a viabilização da empresa".