O Vasco não se intimidou com o fato de enfrentar o Palmeiras no Allianz Parque e utilizou a mesma estratégia que havia adotado em outros confrontos recentes, como contra o Flamengo, no Maracanã, e contra o Cruzeiro, em São Januário. O time ensaiou uma marcação alta e tentou pressionar, mas não deu certo. A equipe de Diniz foi atropelada pelo time de Abel, que construiu a vitória por 3 a 0 em apenas 23 minutos, eliminando qualquer chance de equilíbrio na partida em São Paulo.
Diniz apontou, na entrevista coletiva, quatro pontos que o Vasco não poderia permitir: 1) deixar o jogo rápido; 2) oferecer transição; 3) ceder o meio de campo; e 4) dar profundidade ao ataque do Palmeiras. Todos esses erros foram cometidos pela equipe no Allianz Parque. Eles decorreram tanto de decisões do próprio técnico quanto de escolhas dos jogadores em campo.
Com as ausências de Cuesta e Barros, Diniz optou por escalar um time com Oliveira na zaga e Tchê Tchê no meio-campo. Pelo perfil físico, o Vasco naturalmente estava menos combativo na defesa e no meio. O técnico decidiu manter Vegetti no time titular. Contra equipes da primeira prateleira, principalmente fora de casa, já está claro que o argentino não vem correspondendo, ficando aquém do que o jogo exige, tanto tática quanto fisicamente. O primeiro erro foi a manutenção do centroavante entre os titulares.
Depois do empate contra o Flamengo, Diniz disse que, em jogos contra equipes do nível do rival, o time precisa se defender ou em linha avançada ou em linha muito recuada — sem poder ficar no meio do caminho. A escolha do técnico do Vasco foi adiantar as linhas no Allianz Parque e marcar alto. Com uma defesa que atuou junto pela primeira vez nesta quarta-feira, ainda sem entrosamento, a estratégia não deu certo e favoreceu o time de Abel Ferreira.
O Vasco pressionou mal com Nuno, Coutinho, Vegetti e Rayan no ataque, o meio-campo não acompanhou as movimentações ofensivas e a defesa, desentrosada, ficou no meio do caminho. Assim saíram o primeiro e o terceiro gols do Palmeiras na partida. O time da casa atraiu o Vasco ao sair curto desde a defesa, e a zaga vascaína foi pega desorganizada pelo ataque móvel e veloz de Vitor Roque e Flaco López.
Os dois gols tiveram origens semelhantes. O Palmeiras atraiu a marcação alta do Vasco com passes desde a defesa. Os jogadores que recebiam a bola de costas no ataque — no primeiro lance, Raphael Veiga; no segundo, Flaco López — abriam pelo lado e depois vinham para o meio, atraindo a marcação de Puma Rodríguez. Com isso, a linha defensiva do Vasco ficava completamente desorganizada.
Essa foi a maior dificuldade do time no jogo: os meias do Palmeiras traziam os laterais para o centro, enquanto a dupla de ataque explorava a defesa desprotegida, com espaço para atacar em profundidade. A qualidade técnica dos jogadores de Abel Ferreira se sobressaiu diante de uma defesa desentrosada, em uma noite em que tudo parecia dar errado.
O segundo gol foi o retrato disso. Paulo Henrique tentou passe em Coutinho, que acabou desarmado pelo meio. Em um ataque rápido, o Palmeiras chegou com um cruzamento na área, Hugo Moura e Oliveira se atrapalharam, e a bola sobrou limpa para Flaco López.
Pouca agressividade no primeiro tempo e mudanças depois do intervalo
Com a bola, o Vasco não fazia uma partida ruim. Ainda com o placar em 1 a 0 para o Palmeiras, criou uma boa chance após belo passe de Vegetti para Rayan, que foi desarmado por Piquerez em lance polêmico, com pedido de pênalti dos vascaínos no Allianz Parque. O time controlava a posse, mas carecia de agressividade. Já o Palmeiras foi letal: marcou nas três primeiras chegadas ao ataque.
No segundo tempo, os dois times mudaram de postura. Com a vantagem construída, o Palmeiras foi menos vertical. O Vasco, por sua vez, com as entradas de Gómez e David, tentou correr atrás do prejuízo e levou perigo, mas pecou nas finalizações. Coutinho foi bloqueado duas vezes, e o atacante colombiano perdeu chance cara a cara com Weverton.
Ainda assim, o placar poderia ter sido pior para o Vasco. Flaco López e Vitor Roque seguiram atormentando a defesa vascaína. O argentino foi travado por Robert Renan dentro da área e desperdiçou a chance do quarto gol, enquanto o jovem brasileiro deixou Oliveira no chão antes de marcar — mas o VAR anulou por impedimento.
Lições da partida e sequência
A derrota para o Palmeiras, ao contrário de outros atropelos da temporada, não deve ser tratada como caos ou terra arrasada. Mas é fato que o Vasco precisa tirar lições do jogo desta quarta-feira no Allianz Parque.
O melhor momento do time na temporada coincidiu com uma equipe mais inteira fisicamente, com Cuesta e Robert Renan firmes na defesa e o meio de campo sustentado por Barros e Hugo Moura. Sem o colombiano e o volante, os setores defensivos ficaram mais vulneráveis. Nessa condição, fazia sentido manter juntos Vegetti e Coutinho? O Vasco precisava ser mais intenso para competir, algo que os camisas 99 e 10 não conseguiram oferecer juntos.
No Brasileirão, qualquer equipe precisa ter leitura de contexto e a capacidade de se adaptar ao adversário. O Vasco, desfalcado de duas peças-chave, tentou repetir a fórmula dos jogos anteriores. Deu errado — e o 3 a 0 aos 23 minutos é prova disso. A melhora no segundo tempo, com um ataque mais móvel, também não foi por acaso. Ela deveria servir de exemplo para partidas fora de casa, em que a equipe de Diniz será mais exigida.
A derrota encerrou a sequência contra quatro das principais equipes do campeonato (Flamengo, Bahia, Cruzeiro e Palmeiras). Com sete pontos somados em 12 possíveis, o Vasco se afastou do Z-4 e alcançou a metade da tabela olhando para cima. Para não se expor novamente ao risco, a resposta precisa ser imediata: no domingo, às 16h, em São Januário, contra o Vitória. Vencer em casa é inegociável.